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Demissões

Médica diz que foi demitida por não prescrever kit Covid a pacientes

O profissional completa que o CID para qualquer síndrome gripal é vinculado à prescrição desses kits; porém, o médico tem a opção de não prescrever, mas é monitorado

Foto: Reprodução/TV Globo
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Cloroquina e Hidroxicloroquina não têm eficácia comprovada contra a Covid

16 abril, 2021

Goiânia (GO) - Uma médica de um plano de saúde que concordou em falar com a TV Anhanguera sem ser identificada, conta que foi demitida nesta semana. Ela acredita que perdeu o emprego porque não aceitou receitar cloroquina aos pacientes de um hospital particular de Goiânia. Os medicamentos que compõem o kit, como cloroquina, azitromicina e outros, não são indicados pela Organização Mundial de Saúde. "Não é explícito, porém a gente sente uma hostilização em relação à prescrição desses kits, muitas vezes a diretoria convoca reuniões, onde expõe as nossas porcentagens de prescrição, certo? E muitos desses colegas que, porventura, têm esse índice baixo são retirados da escala. Então funciona dessa maneira", relata a médica. Sobre a obrigatoriedade de receitar o kit, o plano de saúde Hapvida disse em nota que os médicos têm total liberdade para conduzir o tratamento de cada paciente e que o tratamento precoce é feito em comum acordo. O plano não comentou a situação dos médicos e a chamada "lista de ofensores" para quem não receita o kit. Também não comentaram sobre a denúncia de médicos contratados pelo plano e que forem demitidos por descumprir o protocolo. A recomendação do Ministério da Saúde é que os pacientes procurem uma unidade de saúde ao sentir sintomas da doença e que os médicos podem receitar o tratamento que achar mais adequado aos pacientes. A profissional completa que o CID para qualquer síndrome gripal, necessariamente, é vinculado à prescrição desses kits, porém, o médico tem a opção de não prescrever, mas é monitorado para tal. De acordo com a Sociedade Goiana de Infectologia, essas substâncias têm agravado a condição de doentes internados em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A TV Anhanguera teve acesso a mensagens entre médicos do plano de saúde. Em uma das conversas, um deles compartilha o alerta: "Seu percentual de prescrição kit covid está abaixo da meta. Convido a participar da reunião!", diz a mensagem.
O recado vem acompanhado de uma planilha que traz até nomes, e uma classificação: aqueles que não prescrevem o kit covid estão sendo chamados de "médicos ofensores".
 Em outra planilha, do mesmo plano de saúde, aparecem gráficos de prescrição e dispensação do kit covid em todo o país. Hospitais onde o kit é menos receitado aparecem em vermelho e são classificados como "unidades ofensoras". A reportagem teve acesso também ao protocolo, que indica como deve ser o tratamento. A receita é sempre a mesma combinação de medicamentos. A presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, Christiane Kobal, diz que os médicos não podem ter uma receita padrão, ainda mais com medicações que já mostraram ser ineficazes para o tratamento e levam a efeito colateral "Então, nós já sabemos isso. Então a boa prática médica é o que? Seguir o que nós já sabemos. Então por isso, quando nós nos deparamos com aquelas receitas enormes, com vários itens, né. Você vai tomar o número 1, 2, 3.. Nós já sabemos que aquela receita está errada", dispara Kobal. Para a infectologista, esse é um atendimento médico inadequado, onde o paciente vai tomar medicamentos que não precisa. "Quando tiver um diagnóstico de Covid-19, tenham calma. Saibam que é uma virose que tem 85% de chance de evoluir super bem, que quanto menor for o número de medicamentos, maior a chance dessa virose evoluir bem, de não ter complicações. A médica complementa que trabalha com os pacientes graves nas UTIs e todos eles, quando questionados, disseram que tomaram várias medicações prescritas por médicos que não têm o domínio do conhecimento na Covid-19, segundo a médica.

OMS

A Organização Mundial de Saúde é contrária ao uso de medicamentos que ficaram conhecidos como kit Covid, depois de um grande volume e pesquisas feitas em mais de um ano de pandemia. Mas ainda hoje, no Sistema Único de Saúde, centros de enfrentamento de Covid-19, que são custeados pelo Ministério da Saúde, seguem protocolos com a mesma combinação de medicamentos, com uma receita pronta. Na página da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, estão os protocolos e materiais de apoio para os gestores e profissionais que estão na linha de frente. Um deles é intitulado: "Orientações para manuseio medicamentoso precoce de pacientes". O protocolo traz a recomendação para usar cloroquina, sulfato de hidroxicloroquina e azitromicina para pacientes com sintomas leves, moderados e graves.

Kit Covid em Goiás

Em Santa Helena, no sudoeste do estado, pacientes atendidos no ambulatório de Covid-19 do Hospital Municipal já saem com o kit em mãos, como explica o prefeito da cidade, João Alberto (Patriota). "Alguns medicamentos, como a cloroquina, a ivermectina, a colchicina, hidróxido de zinco, entre outras vitaminas, outras medicações, o próprio corticoide. Então, esse tratamento, ele acabou aqui no município sendo padronizado para esse tratamento inicial", conta o prefeito. O protocolo estabelecido pelo município é seguido há pelo menos um ano, segundo a secretária de Saúde da cidade, Letícia Rosa. "Quando o médico entra para trabalhar com a gente, ele já recebe essa orientação. Nós disponibilizamos desde o início da pandemia. Estão usando ainda porque nós estamos ainda disponibilizando. Em Rio Quente, por telefone, uma funcionária da farmácia do centro de Covid-19 mantido pelo SUS informa que tem o kit para distribuir. A reportagem disse que não tinha receita médica durante a conversa. "Você mora aqui? Então pode trazer. Pode pedir alguém para pegar, trazer o teste positivo, que eu te entrego", responde a funcionária.

A Prefeitura de Rio Quente não quis comentar o assunto.

Nota do plano Hapvida

Sempre respeitamos a soberania médica quando o objetivo é salvar vidas. Dentre os 4 mil médicos das emergências e urgências da rede, menos da metade adotou o tratamento precoce, conforme sugerido em protocolos dinâmicos, elaborados por um comitê médico internacional que se apoia em evidências clínicas e critérios do CFM – Conselho Federal de Medicina diante da excepcionalidade da situação, para prescrição em pacientes com sintomas leves no início do quadro clínico, em que tenham sido descartadas outras viroses (como influenza, H1N1, dengue), e que tenham confirmado o diagnóstico de COVID 19, desde que em comum acordo com os pacientes. A outra metade, utiliza outras drogas. Isso comprova a total liberdade de tomar uma condução terapêutica. Neste momento, há, em nossa rede de atendimento em Goiânia, uma desmobilização de equipes extras devido, felizmente, à redução do atendimento de urgência por síndromes respiratórias. Importante destacar que não há registros de internações resultantes de qualquer efeito colateral pelo uso do tratamento precoce. A empresa acompanha atentamente a jornada de todos os pacientes até o desfecho de cada caso. Para nós, cada vida importa. Não hesitamos na hora de garantir o acesso à saúde, com os melhores protocolos médicos e medicações que se mostraram, em nossa experiência clínica, eficientes no enfrentamento do vírus, sobretudo no início dos sintomas.

Fontes: TV Anhanguera / Globo / G1 Goiás / www.poptvnews.com.br